segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Seus pés balançavam no ar. O tempo parecia ter parado. "Talvez a Terra esteja girando mais devagar." - pensou. Não conseguia mais distinguir as cores, tudo estava preto e branco. Fazia sol, mas mesmo assim ela não sentia calor, nem frio.

Fazia tempo que não se sentava naquele balanço. Lembrou que costumava ir até lá quando criança, principalmente depois da chuva. Adorava quebrar as regras e desafiar o que sua mãe chamava de “perigoso”.  Recordou do cheiro do orvalho, das hortências e de como o pé de jaboticaba era lindo na época da primavera, cheio de florzinhas peculiarmente diferentes. “É...muita coisa mudou.”

Mas não sentia saudades. Nesse fim de tarde, estava mais preocupada em definir o que se passava com ela. Sempre fora tão intensa! Era extremista, quando gostava de alguém ou de algo, o fazia como se dependesse daquilo para viver. Quando nervosa, falava alto, quebrava coisas, fechava a cara e fazia bico, como uma criança mimada. Ela mesmo se definia como “mais macho que muito homem”. Às vezes pensava que afastava as pessoas, as deixava com medo...mas nunca se importou em mudar!

Hoje estava tudo tão diferente...tentou lembrar das brigas, das discussões, das inúmeras mentiras e das lágrimas que já havia derramado. Pensou nos momentos bons, em quando se conheceram, do primeiro porre juntos e das músicas que narravam essa história que fora escrita em linhas tortas, com letras borradas e em um papel roto e esburacado.
 
Não sentiu nada. Nem ódio, nem amor, nem compaixão, nem mesmo pena. Estava surpresa consigo mesma. “Talvez eu esteja novamente no meu universo paralelo, na minha realidade inventada...nunca estive assim. Tão leve, tão serena. Estranho...”

Fechou os olhos. Sentiu a brisa afagar seus cabelos e o ar inflar seus pulmões. Parou o balanço. E tudo fez sentido: quando não se sente mais nada, é porque já não vale mais a pena tentar. Naquele momento, ela soube que a tal história acabava de ter um ponto final.

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