segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Reticências

Cheguei hoje decidida a escrever tantas coisas aqui! Mas, pensando bem, melhor deixar pra lá...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

SMS

"Estou lendo um livro. Sua cara! Passe-me seu endereço. Vou te mandar depois que acabar de ler... se você aceitar, claro!"

"Qual o nome do livro?"

"Malu de Bicicleta. Estou sem notebook, de novo..."

"Um cafajeste que se apaixona e acaba sendo traído. Cadê minha cara nisso? Hahaha. Por que sem note?"

"Estragou de vez. E é claro que é sua cara! Como você tá?"

"Porra, eu não quero ser corno! Hahaha. Serei sincero, eu tô no fundo do poço da montanha mais alta. Oscilações tremendas. Mas logo melhoro. E você?"

"O que aconteceu? Quer conversar sobre?"

"Nada. Apenas viagens minhas. E as novidades?"

"Nenhuma. Acho que estou apaixonada. Que merda!"

"Espere uma semana. Se não passar, do mundo do coração: se fo-deu."

"Vou seguir seu conselho. E as mulheres?"

"Cara, se houver possibilidade de relacionamento não existe problema. Vi a mulher que eu sonho em casar com outro cara muito feio. Não sei se sinto tristeza ou esperança..."

"Hahahahaha. Que foda!"

"E eu que estava pensando que ela fosse lésbica."

"Nunca se sabe! Até a morte há muita coisa a ser descoberta. 'Não importa de onde vem o prazer. O que realmente importa é que ele venha'“

"Não concordo com a frase... é muito ampla!"

"Hahahaha. Quem é a mulher?"

"Não tem facebook. Se chama Natali."

"Nome de sapata."

"Hahaha. Tem estilo de lésbica, mas não de sapata. Acho que devo ter problemas com isso... Só não se case!"

"Relaxa! Ta tudo sob controle... Sinto que sou uma hipócrita."

"Por negar o sentimento? Justifique sua resposta. (cinco linhas)"

Senti preguiça de responder a mensagem. Afinal, seria longa demais! Terminei de ler o livro, já era praticamente 1 da manhã.  Apaguei as luzes e deitei. Fiquei algum tempo observando as estrelas fluorescentes coladas no teto do meu quarto. Quis voltar a ter a idade que tinha quando as coloquei ali.

Por que sempre que estamos certos de algo, sempre que criamos teorias e as aceitamos com plena convicção, vem alguém e mostra que somos uma farsa? É como desmascarar um cientista renomado. É como provar a um religioso fervoroso que Deus talvez não exista. É como dizer a uma criança que Papai Noel é só um velho oportunista contratado para iludi-la.

Que bosta! Que bosta!  

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Intensidade

Desde quando se auto-diagnosticou com insatisfação crônica soube que algo deveria ser feito. Há tempos não se sentia feliz, achava sua vida medíocre e até mesmo o tempo parecia se arrastar. Decidiu.

Largou o emprego. Terminou o namoro. Só não abandonou a faculdade por falta de coragem ou por excesso de vocação. Se ficou triste? Inevitável! Sair da zona de conforto é difícil para todos.

Queria sentir-se viva novamente. Aliás, queria viver algo que nunca havia vivido. Aquela era sua hora, sabia disso. Sentia isso! E assim foi.

Começou a sair, como todo solteiro em crise faz. Fez amizades. Algumas delas de uma só noite, outras que sabia que durariam algumas vidas. Experimentou coisas diferentes, sensações diferentes. Teve alguns porres. Aprendeu a viver com guaraná em pó, redbull e café. Além de água de coco, é claro! Desvendou a dor no pescoço que sentia no dia seguinte à um show. E a falta de voz também!

Apaixonou-se várias vezes numa noite. E daí se a achassem fútil? “Qual a graça de tanta intelectualidade e bons costumes sem um pouquinho de insanidade?”. Aprendeu a dizer “sinto sua falta” em espanhol. Descobriu que gostava de cozinhar, que adorava passar as tardes de sábado curando uma ressaca sozinha em frente à televisão e que não havia sono no mundo que fosse tão bom quanto uma noite toda sem dormir.

Gastou todo o dinheiro que havia guardado. Decidiu viajar. Bonito, Buenos Aires, San Isidro, São Paulo, Campo Grande, Goiânia...Realizou alguns sonhos. Assistiu um jogo num estádio com mais de 35 mil palmeirenses. Experimentou a sensação de comemorar um gol. E o desgosto de lamentar um pênalti perdido. Soube como era 20 horas dentro de um ônibus com 25 litros de vodka e 20 universitários.

Foi trabalhar com o que queria: contabilidade. Fiscal, declarações a serem entregues, guias a serem calculadas, composições a serem feitas, balanços a serem fechados, compensações de créditos a serem analisadas. Prazos. Clientes exigentes ao telefone. Clientes exigentes em reuniões. Problemas, soluções, alívio, sensação de missão cumprida!

Conheceu tanta gente, tantas coisas novas. Lugares, costumes, paisagens, aromas, sabores, melodias, arrepios, batidas diferentes em seu coração! E foi bom, foi ótimo, foi indescritivelmente único! É claro que o vazio e a crise existencial sempre vêm. Mas a vida é tão boa, o mundo é tão grande...há bilhões de pessoas para se conhecer, inúmeros lugares para se visitar, milhares de sensações novas a serem sentidas, infinitas possibilidades para seu destino ser diferente!

Não se limite à sua casa, à sua cidade, ao seu estado, ao seu país, ao seu continente...Não se limite à amargura do comodismo, à fatalidade do determinismo. “Mas eu nasci pobre”. “Mas eu trabalho, não posso tirar férias”. “Mas eu não tenho tempo...”. Não adie ainda mais todas essas coisas boas que podem lhe acontecer! Pra que se prender a coisas que só te fazem sofrer? Pra que viver de passado? Ou de um presente que te sufoca, te agonia?   

Não coloque sua felicidade nas mãos de uma só pessoa. A não ser que essa pessoa seja você mesmo!

domingo, 6 de novembro de 2011

Já era tarde. Passara o dia torcendo para as horas andarem mais rápido...aquele frio insuportável maltratava qualquer ser humano que não pudesse ficar em casa, debaixo das cobertas, tomando chocolate quente com conhaque.

O telefone tocou. Estranho ligarem àquela hora da noite. Mais estranho ainda o fato de ligarem em sua casa. Ultimamente só recebia ligações de operadoras de crédito ou de entidades beneficentes. Maldita solidão!

Do outro lado da linha, uma voz que não esperava ouvir. Emudeceu com a surpresa. Depois de uns minutos resolveu falar... nunca fora mal-educado, e não seria agora, depois de tudo que passaram.

Conversaram amenidades. “Como vai a vida? Família? Amigos? Trabalho? Seu cachorro ainda ronca enquanto dorme? Conseguiu fazer a viagem à Trancoso?”

Odiava essa intimidade forçada. Já não se conheciam mais, já não tinham afinidades. Por muito tempo não podiam ouvir o nome um do outro. Por que isso agora? Estava incomodado com a situação, mas sua educação sempre o freava frente a alguma situação em que pudesse ser rude. No fundo, se achava um frouxo, mas não conseguia mudar... era mais forte que ele.

- Me diga a real razão de me ligar a essas horas. Qualquer pessoa que tenha bom senso sabe que não faz parte dos bons costumes! – perguntou ele.

Ouviu um suspiro. Não soube decifrar se era de tristeza, de medo, de angústia. Logo depois, um silêncio ensurdecedor.

- Está me ouvindo?

- Sim – disse ela – Estou numa crise existencial.

- Outra?

- É. Preciso saber uma coisa e quero que seja sincero comigo...

- Sou todo ouvidos.

- Por que disse que me “amava pra sempre” e depois, sem mais nem menos, foi embora? Por que jogou fora todas as promessas e planos de um futuro juntos? Já tentei entender, procurei meus erros. Sei que nenhum foi tão grave assim. Por isso quero ouvir de você o que eu fiz de errado!

- Depois de tanto tempo?

- É, depois de tanto tempo! Afinal, se eu sou ou fui mesmo “o amor da sua vida”, tenho o direito de saber. Preciso saber! Preciso muito!

- Não foi culpa sua Ana. Não se martirize por isso! Você era perfeita!

- Então... ?
- Na verdade não é culpa de ninguém. Seres humanos são assim! Egoístas, hipócritas. Até o perfeito nos enjoa... não é uma exclusividade minha. Todos somos assim!

- Por que me enganou então?

- Porque tinha a necessidade de te fazer feliz, no início. Depois, quando a rotina e o comodismo chegaram, eu dizia da boca pra fora... não queria te magoar.

- Mas o fez!

- Fiz, e não me sinto orgulhoso disso. Você vai encontrar alguém novamente, alguém que te faça bem, que...

- Que me ame?

- O amor não existe. Não esse pelo qual você espera tanto. Eterno, imutável, incondicional.

- Não deveria ter te ligado. Você acaba com qualquer esperança de uma vida feliz e completa que resta em mim.

- Adeus Ana. Seja feliz!

Não ouviu resposta. Só o toque do telefone sendo desligado. Talvez tenha soado irônico.

Sentiu sono. Pessoas no geral despertavam nele a mais profunda preguiça. Virou para o lado e dormiu.