quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Intensidade

Desde quando se auto-diagnosticou com insatisfação crônica soube que algo deveria ser feito. Há tempos não se sentia feliz, achava sua vida medíocre e até mesmo o tempo parecia se arrastar. Decidiu.

Largou o emprego. Terminou o namoro. Só não abandonou a faculdade por falta de coragem ou por excesso de vocação. Se ficou triste? Inevitável! Sair da zona de conforto é difícil para todos.

Queria sentir-se viva novamente. Aliás, queria viver algo que nunca havia vivido. Aquela era sua hora, sabia disso. Sentia isso! E assim foi.

Começou a sair, como todo solteiro em crise faz. Fez amizades. Algumas delas de uma só noite, outras que sabia que durariam algumas vidas. Experimentou coisas diferentes, sensações diferentes. Teve alguns porres. Aprendeu a viver com guaraná em pó, redbull e café. Além de água de coco, é claro! Desvendou a dor no pescoço que sentia no dia seguinte à um show. E a falta de voz também!

Apaixonou-se várias vezes numa noite. E daí se a achassem fútil? “Qual a graça de tanta intelectualidade e bons costumes sem um pouquinho de insanidade?”. Aprendeu a dizer “sinto sua falta” em espanhol. Descobriu que gostava de cozinhar, que adorava passar as tardes de sábado curando uma ressaca sozinha em frente à televisão e que não havia sono no mundo que fosse tão bom quanto uma noite toda sem dormir.

Gastou todo o dinheiro que havia guardado. Decidiu viajar. Bonito, Buenos Aires, San Isidro, São Paulo, Campo Grande, Goiânia...Realizou alguns sonhos. Assistiu um jogo num estádio com mais de 35 mil palmeirenses. Experimentou a sensação de comemorar um gol. E o desgosto de lamentar um pênalti perdido. Soube como era 20 horas dentro de um ônibus com 25 litros de vodka e 20 universitários.

Foi trabalhar com o que queria: contabilidade. Fiscal, declarações a serem entregues, guias a serem calculadas, composições a serem feitas, balanços a serem fechados, compensações de créditos a serem analisadas. Prazos. Clientes exigentes ao telefone. Clientes exigentes em reuniões. Problemas, soluções, alívio, sensação de missão cumprida!

Conheceu tanta gente, tantas coisas novas. Lugares, costumes, paisagens, aromas, sabores, melodias, arrepios, batidas diferentes em seu coração! E foi bom, foi ótimo, foi indescritivelmente único! É claro que o vazio e a crise existencial sempre vêm. Mas a vida é tão boa, o mundo é tão grande...há bilhões de pessoas para se conhecer, inúmeros lugares para se visitar, milhares de sensações novas a serem sentidas, infinitas possibilidades para seu destino ser diferente!

Não se limite à sua casa, à sua cidade, ao seu estado, ao seu país, ao seu continente...Não se limite à amargura do comodismo, à fatalidade do determinismo. “Mas eu nasci pobre”. “Mas eu trabalho, não posso tirar férias”. “Mas eu não tenho tempo...”. Não adie ainda mais todas essas coisas boas que podem lhe acontecer! Pra que se prender a coisas que só te fazem sofrer? Pra que viver de passado? Ou de um presente que te sufoca, te agonia?   

Não coloque sua felicidade nas mãos de uma só pessoa. A não ser que essa pessoa seja você mesmo!

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